música não é só bater junto
mas é bater junto também
música não é só bater junto
é bater junto de alguém
música é o país dos mais promíscuos
ritmo fere o cálcuro
música é um país canibalista
mas não há razão de se temer
música não é só bater junto
ou a razão pra algo ser
música não é só bater junto
é uma matéria sem porque
música não é só bater junto
mas é bater junto também
música não é só bater junto
é ser amado por alguém
Pode esquecer toda a razão
Também não tem mais coração
Nada será como era antes
Sua pele já apodreceu
Venderam tudo o que era seu
A sua casa tá vazia
Morto, morto, morto
Por que não vê que já morreu?
Passaram dois, dez, vinte anos
E só você não percebeu
Se você quiser acreditar
No cemitério do Araçá
Tem uma pedra com seu nome
Quando a gente morre é pra morrer
E também vale pra você
Pode esquecer suas pendências
Morto, morto, morto
Por que não vê que já morreu?
Passaram dois, dez, vinte anos
E só você não percebeu
Morto, morto, morto
Por que não vê que já morreu?
Passaram dois, dez, vinte anos
E só você não percebeu
Morto, morto, morto
Por que não vê que já morreu?
Passaram dois, dez, vinte anos
E só você não percebeu
A cadeira estava sem as pernas sentada no chão, no centro da sala.
As partes formavam uma cruz
a cor era nostálgica
dava sentido pra dança da poeira até grudar na janela.
(precisava de circulação)
Rastros de um desmanche, mancha dos objetos no chão!
Rastros de um desmanche, mancha dos objetos no chão!
No vidro não tinham desenhos, mas tinham digitais
No vidro não eram desenhos, mas eram digitais
No meu ouvido ela gritava:
- Baby, Baby... Eu sei que tudo morre, que tudo acaba, que a morte faz um risco na retina como a faca de
Buñuel.
E Os olhos se regeneram mas o trauma do corte refaz seu movimento num eco fantasma.
Olhe para este ponto, fure aqui.
Amorteça esse desenho, corte aqui.
- Quero dar um Reload, uma turbinada
Olhe para esse ponto, amorteça meu desejo...
Pra uma cicatrização perfeita e o disfarce completo da cirurgia
Mas é plástico, é uma enrascada!
O sorriso é prático. A mulher diz “Vai com Deus”, Deus não tá alí.
o sorriso era histérico e aquela delicadeza escondia uma violência mortífera que envenenava o vento
Eles diziam; vamos nós ao vosso Reino
(numa construção ambiciosa)
Eles diziam: seja feita a vossa vontade
(na frente do espelho)
Com o altar queimado
e o olhar em cruz:
Céu/Inferno/Morte/Sul
Céu/Inferno/Morte/Sul
E as doenças tantas que as flechas de Miguel vinham com insights alopáticos
Os colapsos eram pessoais, mas manchavam a paisagem.
a paisagem era bela
Alguém gritava:
“mata-me de desejo”
o sexo que era estranho
“mata-me de desejo”
o menino é real
“mata-me de desejo”
a paisagem era bela
“mata-me de desejo”
a faca era decepcionante
“mata-me de desejo”
o sorriso era histérico
“mata-me de desejo”
havia um brilho no microscópio do seu olhar.
Viajar por uma estrada e longe confundir
As casas espalhadas nos morros com estrelas
É perder o céu
(Perder a verticalidade)
Tem luz
Mas não é o mistério
Tem luz
Mas não é a fonte
reluz
Mas não é a Luz
a cidade verticaliza
A referencia horizontaliza
Horizontal por que um plano chapado na minha frente
desenha uma paisagem
Bidimensional
E não dá perspectiva para mirar o mistério
Tem luz
Mas não é o mistério
Tem luz
Mas não é a fonte
reluz
Mas não é a Luz
Um encosto é:
Uma vida sem vivente,
É um movimento sem Fonte
Pregando o tempo,
Tilt, loop, fragmento.
Foi fonte de um sentimento atravessado
Ou amoroso
Mas uma obsessão
Que pega carona num corpo desavisado
A onde espelha sua fonte criação
Tem luz
Mas não é o mistério
Tem luz
Mas não é a fonte
reluz
Mas não é a Luz
Tem luz
Mas não é o mistério
Tem luz
Mas não é a fonte
É luz
Mas não é a Luz
Viajar por uma estrada e longe confundir
As casas espalhadas nos morros com estrelas
É perder o céu
Tem luz
Mas não é o mistério
Tem luz
Mas não é a fonte
reluz
Mas não é a Luz
"Dancei com esqueletos, amanheci nos porões
Risos quentes botam a mesa, mãos frias contam moedas
Marchei, marchei
Atrás de qualquer comédia
Mas nas noites de inverno todos os bichos buscam refúgio
Risadas, vinhos da casa, música, música, música
Sobre cidades que não conheci, também sobre mulheres loucas
Lá fora a noite era fria, dentro ninguém mais era estranho,
Nos olhos tristes da companhia, piscava um aviso em neon:
Não isto não é um sonho
Tentei limpar minha garganta, molhei os meus dois sapatos
Não é nem dia nem noite, nos disse um anjo inválido
Andamos, andei, seu corpo me aqueceu
Piscava o aviso em neon e ela assoviou para mim."
about
Por Thiago França
"A tarefa de escrever sobre qualquer obra de arte só pode ser considerada simples se abordada de forma rasa e descompromissada, quiçá displicente. Escrever sobre arte é um problema pois criar um jogo de referências para entender uma obra é diminuir seu potencial e originalidade, induz o olhar do observador de forma castradora. Sem contar que ao final da maioria dos textos aprendemos mais sobre seus autores que sobre os objetos - coisas que tentarei evitar.
A pior missão a qual uma resenha pode se dispor é a de tentar explicar, desvendar significados escondidos como num enigma, um vide-o-verso de sentidos escamoteados em entrelinhas de escalas, acordes ou palavras. Não há verdade absoluta, sim-ou-não, como numa anedota dicotômica que perde a graça depois de revelada. O rolê da arte é outro - ou pode ou deve ser. Ao artista interessa a controvérsia, o paradoxo, o figurado, símbolos mutáveis que em constante movimento geram calor. A verdade literal é fria e solitária, mora num deserto empoeirado quase esquecida, nostálgica do dia em que veio ao mundo.
Os artistas mais atentos parecem estar desconectados do presente por terem abandonado a pressa da objetividade linear e trazer à tona o que falta à realidade ao invés de reverberar o que já está pronto. O tatibitati da literalidade só interessa às prateleiras das lojas de departamento e aos tijolinhos de jornal. Enquanto o entertainer tenta acertar os números da loto, o artista atira ao mar, engarrafados, seus mais fundos pensamentos, sem pressa de atingir destinatário.
Assim me apareceu “Volume Único”, em quatro canções repletas de camadas, fagocitadas pelo grupo que, em segundo plano, protagoniza o disco. Sem virtuosismo vulgar, sem execuções vetoriais, o disco se apresenta como organismo vivo onde vozes (letras) e banda (sons) se retroalimentam na construção dos arranjos, manuseiam o som em estado bruto (aqui, nada a ver com “brutal”), antes dos gêneros e das construções radiofônicas, sem verniz, sem curso de etiqueta. Batimentos (intervalos microtonais), assimetrias, dinâmicas e texturas criam um leque abrangente de sensações e eis um ponto crucial: as obras de arte demandam criatividade também de quem as apreciam.
Não há o que entender, não há explicação, apenas o quanto cada um estará disposto a mergulhar e se deixar levar, seja racional e pela força da inquietação da dúvida, seja sensorial e como mero espectador de frequências sonoras, seja as duas coisas. Muito mais interessante do que chegar a uma conclusão é caminhar pelas perguntas certas.
Respostas são para os fracos."
credits
released June 14, 2018
Arthur Decloedt - Double bass
Filipe Nader - Alto and Baritone Saxophones
Guilherme Marques - Drums
Amilcar Rodrigues - Trumpet and Euphonium
Cuca Ferreira - Baritone Saxophone
Compositions:
Sessa on track 1
Tim Bernardes on track 2
Luiza Lian/Filipe Nader on track 3
Pedro Pastoriz on track 4
Recorded by Gui Jesus Toledo at A voz do Brasil , São Paulo, Brazil, February, 2017
Mixed by Gui Jesus Toledo at Canoa Studio.
Mastered by Gui Jesus Toledo
Produced by Filipe Nader and Arthur Decloedt
Arrangements and musical production by Filipe Nader and Arthur Decloedt
Executive production by Travassos for Trem Azul
Design and artwork by Maria Cau Levy
This record is a joint venture between Shhpuma & Selo Risco labels.
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do antropólogo Claude Lévi-Strauss. Realizado a partir de vasta pesquisa de materiais na internet e repleto de colagens, samples, narrações e manipulações sonoras, o álbum sai pelo selo RISCO e tem arte gráfica de Maria Cau Levy....more
Just a beautiful jazzy rap album with buttery smooth flows versed with huge talent. It's not only lovely to the ears, but the lyrics are profound and empowering about the struggles that she faces. zhangtastic